A luta feminista pelo voto das mulheres no Brasil

Em 24 de fevereiro de 1932, as brasileiras conquistaram o direito ao voto. Essa data, que poderia ser celebrada como um marco de igualdade é, na verdade, um lembrete de como o machismo e o conservadorismo tentaram, e ainda tentam, silenciar as mulheres.
O Brasil do início do século XX era um país profundamente conservador. As mulheres eram vistas como “rainhas do lar”, destinadas ao casamento, à maternidade e aos afazeres domésticos.
A ideia de que uma mulher pudesse votar, muito menos se candidatar a um cargo público, era considerada absurda, quase uma afronta à “ordem natural” das coisas. O conservadorismo brasileiro, aliado à Igreja Católica e às elites políticas, construiu barreiras ideológicas e legais para manter as mulheres longe da política. E, quando elas começaram a se organizar, foram ridicularizadas, desacreditadas e até criminalizadas.
Bertha Lutz, uma das maiores líderes do movimento sufragista no Brasil, sabia disso. Ela e outras feministas da época enfrentaram o machismo institucionalizado, que via a política como um “clube do bolinha”. Em 1922, Bertha fundou a FBPF (Federação Brasileira pelo Progresso Feminino), que se tornou um espaço de articulação e resistência.
Mas a luta não foi fácil. Em 1932, quando o voto feminino foi finalmente aprovado, ele veio com restrições, apenas mulheres casadas (com autorização do marido), viúvas e solteiras com renda própria poderiam votar. Ou seja, o Estado ainda mantinha o controle sobre os corpos e as decisões das mulheres.
A igualdade política plena só chegou em 1965, com a Lei 4.737, que editou o Código Eleitoral. Mas, mesmo com a legislação, a presença das mulheres na política continuou sendo mínima. Por quê? Porque o machismo não desaparece com uma canetada.
Ele se adapta, se reinventa e se mantém vivo nas estruturas do poder. Hoje, as mulheres são 52% do eleitorado brasileiro, mas apenas 15% dos cargos no Congresso Nacional são ocupados por mulheres. Nas prefeituras, esse número cai para 12%. E, quando olhamos para mulheres negras, indígenas e LGBTQIAP+, a subrepresentação é ainda mais escandalosa.