Alice Portugal em entrevista à Rádio Cultura: “A voz das ruas é o grande catalisador, o motor da participação popular”

9186392419_d146d4467cEm entrevista às jornalistas Bárbara Souza e Dina Rachid, na manhã desta segunda-feira (01/07), na Rádio Cultura, a deputada federal Alice Portugal falou sobre a importância da elevação do 2 de julho a data histórica nacional, reforma política, fim do fator previdenciário e onda de protestos que se espalhou pelo Brasil.

Autora da Lei 12.819, que elevou o dia magno dos  baianos a data histórica nacional, a deputada afirmou que o projeto ficou dois anos para ser votado no Senado, porque o então presidente do Congresso Nacional José Sarney tinha “divergências históricas com a Bahia, pois dizia que Lord Cochrane saiu daqui e foi pilhar o Maranhão”. Alice explicou que, com a promulgação da Lei 12.819, a data 2 de Julho passa a ser inscrita no calendário das efemérides nacionais e, consequentemente,  “passa a  ser obrigatória a sua citação nos livros de história”.
A deputada considerou  que o projeto que restitui o nome 2 de Julho ao aeroporto de Salvador ganhará nova força  a partir  da nacionalização da data histórica. Segundo ela, na Câmara dos Deputados “não se sabia  o que foi o 2 de Julho, mas agora a data está inscrita nas efemérides nacionais”.  Alice esclareceu que o projeto que trata da matéria  – de autoria do deputado Luiz Alberto  (PT) com apensado seu – está pronto para ser votado  na Comissão de Educação.  “Agora depende do convencimento dos deputados de outros estados”, disse, ao salientar que essa “é uma mudança que só pode acontecer na Câmara dos Deputados”.
Questionada por Bárbara Souza sobre a dimensão que  as manifestações recentes de brasileiros  ganharam nas ruas, afirmou  que também ficou surpresa com a proporção que o movimento assumiu.
Avanços
Na sua opinião, os governos atuais da Bahia e do Brasil, são “os mais avançados da história do País”.  A entrevistada citou avanços obtidos no Brasil na última década , como “programas sociais, universidades expandidas, escolas técnicas sob a forma de IFETs, que estão em todo o Brasil e já são mais de 150 núcleos de escolas  técnicas no País; o ciclo escolar passou de 7 para 8 anos, com incorporação da pré-escola e  as creches estão no projeto piloto para serem espalhadas pelo país”.  Para a parlamentar, o governo “peca por não divulgar tudo que faz, por não ter interferido, do ponto de vista mais oficial, em divulgar em um veículo de comunicação seu”.
Ao declarar que no Congresso Nacional são “mais de 250 representantes do setor privado”,  falou sobre a dificuldade em se aprovar recentemente em plenário 10% de investimento do PIB e 100% dos royalties do petróleo na Educação. “Foi uma luta;  antes das manifestações já estava pronto para votar”, declarou.
Ainda em relação às manifestações, a parlamentar lamentou o que definiu como “uma aversão global à política”, que caracteriza os protestos.  Para ela, isso pode criar “um vácuo que dá possibilidade a um espaço de sucção de golpes e de tudo que há de mais reacionário na sociedade”.
Alice considerou que os jovens que estão nas ruas estão fazendo política, para ela, o único mecanismo possível  de transformação. “Reagir à política é algo que precisa ser analisado, porque é através da política  que nós construímos mudanças, nas ruas, nos sindicatos, nas organizações não governamentais, onde seja”, defendeu.
Crise de representatividade
Sobre considerações de Bárbara Souza a respeito de  uma “crise de representatividade”, a parlamentar  declarou-se favorável á reforma política, mas ponderou  que se  a matéria  tivesse sido votada antes, teria sido uma “reforma do grande capital”.
 A deputada falou sobre a correlação de forças que se dá no Congresso em função de interesses de múltiplas representações dos parlamentares. “A sociedade tem de entender que o Congresso é um espelho plano; agora o povo não  está se reconhecendo no espelho, mas em quem votou? Ali não tem ninguém nomeado”, argumentou.
Ao se posicionar favoravelmente  ao plebiscito, defendeu o financiamento público de campanha e  rechaçou a cláusula de barreira, que impede ou restringe o funcionamento parlamentar ao partido que não alcançar determinado percentual de votos.
Alice também manifestou-se a favor da  luta que se trava no Congresso Nacional pela derrubada do fator previdenciário, que, segundo ela, “alonga o período de trabalho do trabalhador, sob o argumento de que a Previdência está com o  caixa furado”.  Para ela, “os grandes sonegadores” não foram punidos. “Não só Nicolau Lalau, que virou o símbolo, mas empresas que faliram e que deixaram rombo na  Previdência  como a Vasp, a Mesbla; o próprio  Estado brasileiro é o maior devedor da Previdência”, disse.
Gota d’agua
Indagada por Dilma Rachid sobre se as manifestações de rua tenderiam a continuar, a entrevistada comparou o movimento a um “espasmo social” e recorreu a metáfora da gota d’agua do compositor Chico Buarque. Para Alice, as manifestações vieram para tirar o segmento da política da “zona de conforto”, mas “possivelmente não continuarão no mesmo porte”, disse, complementando que espera “que não parem”.
Segundo ela, a grande lição a se tirar do movimento “é que a voz das ruas é o grande catalisador, o motor da  participação popular”. A deputada defendeu a organização do movimento “no sentido de ter uma pauta concreta, objetivos concretos”, que, no seu entendimento, só pode se dar a partir de organizações de segmentos da sociedade, “É fundamental  que a sociedade saiba canalizar sua força para que ela não se disperse, para que ela não se perca em apenas um espasmo”, concluiu.
Fonte: http://aliceportugal.org.br