Bandeiras do ódio e da morte

*Por Ronaldo Lima Lins

Glauber fica é uma palavra de ordem poderosa. Contra a bandeira do ódio e da morte, não nos entreguemos.

Salvar uma sociedade do nazifascismo, historicamente, não se mostra uma tarefa simples. No século passado, tornou-se necessário uma guerra mundial para fazer recuar esta bandeira da morte e derrotá-la. Em seus devaneios de grandeza, Hitler se habituou a pregar que, caso os alemães não vencessem nos campos de batalha, então mereciam (todos) perecer. Em nosso microcosmo, revestido de bolsonarismo com as cores nacionais, o anjo da morte paira sobre a cabeça dos adversários, traduzidos, para simplificar, na figura de Luiz Inácio Lula da Silva. Não é à toa que o deputado Gilvan da Federal, sem nenhum pudor, e votando um projeto para desarmar a segurança do nosso mandatário, haja, no entusiasmo, decretado, aos gritos, a sua eliminação.

O episódio despertou os cuidados de nossas autoridades judiciais, com razão, como incitação a um levante, aparentado aos acontecimentos do 8 de janeiro. E não aparece isolado. Dentro do espírito de bombardear adversários, figura na mesma linha a punição atribuída pelo Conselho de Ética a Glauber Braga. Nada justifica, no caso dele, pena tão extrema, ainda mais depois de tanta leniência consagrada aos infratores do decoro pintados de verde e amarelo.

A violência da medida, consagrada por maioria tranquila no dito   colegiado, só se explica por fatores mais profundos, da ordem das tramas urdidas nas sombras do sistema. Para não deixar margens a dúvidas, flagrou-se um deles, o tristemente famoso Nikolas Ferreira, antes de seu discurso, a conspirar telefonicamente com seu líder Jair Bolsonaro, ainda solto, à beira da condenação. Pessoas presentes, mobilizadas para apoiar o jovem parlamentar, não conseguiam acreditar no resultado. Esqueceram-se de que lutavam contra adversários extremados, prontos para chegar às últimas consequências pouco importando a quem doesse. No caso, a extrema direita fala em democracia com um riso oculto, já que, no poder, desde que com segurança, decretariam a ditadura. Afinal, são apoiadores dos nossos tiranos, sem excluir torturadores.

O atual equilíbrio de poder implica em agudos sentidos de habilidade, o que se exibe nas tratativas governamentais, uma vez que, no Congresso, a direita deita e rola.

No entanto, nem tudo está perdido. Quadros da Justiça vêm dando provas de sabedoria, segurança e noção do dever, sem hesitações na punição de vândalos. Graças a isso, não mergulhamos na escuridão. É também o motivo pelo qual, em nome da equidade e dos princípios da nossa soberania, as lutas podem e devem continuar. Glauber fica é uma palavra de ordem poderosa. Contra a bandeira do ódio e da morte, não nos entreguemos. Temos de defender a vida.

 

*Ronaldo Lima Lins, escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ