Consciência Negra: lutar contra o racismo é parte do caminho de construção de uma sociedade mais igualitária

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Sou a ave da noite
Sou ávida noite
que bate asas de vento
e traz um canto agourento
ao sonho dos opressores
e traz um canto suave
a despertar outras aves
pro revoar da justiça.

Trecho do poema “Ave” de Cuti

 

Para celebrar o Dia da Consciência Negra, o Sindicato realizou, nesta quinta-feira (19/11), o ASSUFBA Com Vida:  Negras e Negros nas universidades e em toda parte”, transmitido pelo Facebook da entidade.

O ASSUFBA Com Vida trouxe como convidadas a Pró-Reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil da UFBA, Cássia Maciel, e a Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Ações Afirmativas e Assistência Estudantil, Elisabete Aparecida Pinto.

Em 2018, a instituição do 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra completou 15 anos. Essa data foi escolhida para homenagear Zumbi dos Palmares, último líder de Palmares, maior quilombo do período colonial. Zumbi foi executado em 20 de novembro 1695 pela coroa portuguesa. O reconhecimento desse dia de homenagem a um herói negro, em si só, constituiu-se em uma vitória da Luta dos Movimentos Sociais Negros, a retirada da invisibilidade de uma luta empreendida pelos negros sequestrados da África para servir no Brasil como mão de obra escrava.

Os Movimentos Sociais Negros compreendem as lutas dos negros na perspectiva de resolver os problemas que os atingem na sociedade, enfatizando aqueles produzidos pelo preconceito e pelas discriminações raciais, que os afetam negativamente em todos os âmbitos da vida, tanto no campo material quanto simbólico, produzindo obstáculos ao acesso aos Direitos Sociais e Humanos, caracterizando o que é chamado de racismo estrutural.

O racismo se constitui num sistema de opressões que é estruturante na sociedade brasileira. É sistema, pois é constituído de um conjunto de elementos que interagem entre si para produzir a exclusão de uma grande parcela da sociedade, baseada na “crença ou ideologia” de que existem “raças” e que estas estão hierarquizadas, estando a “raça” branca em situação superior às outras. É estruturante pois essa ideologia estabelece de forma concreta as relações entre os indivíduos e grupos na sociedade, determinando os espaços ocupados por cada segmento a partir dessa perspectiva. O racismo se realimenta, cotidianamente, pois, reforça-se no apoio incondicional das elites econômicas, movidas que são pelos seus privilégios e pelo que o eurocentrismo legou à ciência e ao mercado.

O Brasil possui a segunda maior população negra do mundo, perdendo apenas para a Nigéria e, segundo os dados do IBGE, os negros são mais de metade da população brasileira (55,4%). Entretanto, esses mesmos dados demonstram que o Brasil está longe de ser uma democracia racial.

Os negros ganham, em média, o correspondente a 56% do salário dos brancos; enquanto a taxa de desocupação entre brancos é de cerca de 9,5%, entre negros é de 14,5%; o trabalho infantil entre crianças negras (5-7 anos de idade) atinge uma taxa de 63,8% e entre as brancas cerca de 35,8%.  Entre os Técnico-Administrativos em Educação das Universidades Federais, Yone Gonzaga, em sua dissertação de mestrado defendida em 2011 na Universidade Federal de Minas Gerais, relata o que ela chama de “invisibilidade ativamente produzida”, e revelou ainda, que se tratando de trabalhadores autodeclarados negros, a situação é ainda mais grave.  

Em função das mudanças em processo no mundo do trabalho, tanto às tecnológicas, quanto àquelas relacionadas ao desmonte dos instrumentos legais de proteção de direitos, como a reforma trabalhista e a reforma previdenciária, que vêm impactando a vida de todos os trabalhadores e , devido a sua posição já mais vulnerada em nossa sociedade,  vida de homens e mulheres negras, urge pensarmos sobre a  centralidade que o trabalho adquire na vida cotidiana e contemporânea, não apenas no aspecto econômico, mas também como atividade mobilizadora de energias e produtora de identidades, incluindo dimensões que ficaram distantes dos interesses predominantes, como a cultura, a subjetividade, o gênero e a raça.

O nosso grande desafio é a construção de uma militância sindical afirmativa, que articule as lutas contra o racismo, o machismo e a lgbtqifobias, chamadas lutas identitárias , transversalizado-as  na categoria classe, a partir de uma visão interseccional e decolonial.

A  ASSUFBA-SINDICATO tem construído processos de reflexão e formação para  instrumentalizar as nossas lideranças e toda a nossa categoria, fazendo que essas lutas estejam presentes nas ações cotidianas da militância sindical e não apenas isoladas em atividades desenvolvidas nas tradicionais datas comemorativas.

Somos muit@s e somos vári@s, precisamos nos olhar a partir do que nos une. Porém a construção da unidade não deve pretender a homogeneização e apagamento das diferenças, mas a compreensão que a incorporação da diversidade enriquece a construção coletiva, afinal vê melhor quem pode enxergar por vários ângulos.