“Desocupa” volta às ruas de Salvador ainda mais forte

Em sua terceira edição, o movimento “Desocupa a prefeitura, João” continua recebendo apoio de diversos segmentos sociais. Na tarde desta quarta-feira (1º), milhares de pessoas caminharam do Campo Grande à Praça Municipal para protestar contra a Lei de Ordenamento e Uso do Solo (LOUS), aprovada no final de dezembro de 2011, pela Câmara de Vereadores de Salvador, e sancionada, em janeiro de 2012, pelo prefeito João Henrique. O ato, que reuniu sindicatos, associações profissionais e comunitárias, movimento estudantil e outras entidades, teve ampla participação dos técnico-administrativos da UFBA. A ASSUFBA mais uma vez levou sua força às ruas de Salvador para mostrar indignação contra as medidas privatizantes e o descaso que aflige a cidade.

Ao chegar à sede do Executivo, os manifestantes foram recebidos pela Polícia Militar, que ocupou a escadaria da Prefeitura Municipal de Salvador para conter a multidão ávida pela saída do prefeito João Henrique. Desta vez, o prefeito antecipou a estrutura que seria utilizada no Carnaval e cercou todo o prédio da Câmara de Vereadores com tapumes. Os carros de som foram impedidos de ultrapassar a Praça Castro Alves. Mas, a população não se intimidou e partiu com megafones até a Praça Municipal, aos gritos de “Fora João, desocupa ladrão!”.

Foto:Américo B. Barros

Para o coordenador geral da ASSUFBA Sindicato, Renato Jorge Pinto, a cidade apresenta um cenário de desordem e era necessário o despertar da população. “Onde há população inerte, impera a impunidade. Enquanto nosso desprefeito é filmado brincando de trenzinho em festa, nossa cidade está abandonada. Nossa Câmara está cheia de parasitas e Salvador merece mais. Queremos chamar a atenção também dos vereadores que entregaram nossa cidade à especulação imobiliária”, enfatiza o dirigente.

“Imagine o cidadão chegar à praia e encontrar sombra. Vai fazer o que na praia? Está claro que não há o mínimo de seriedade nos projetos aprovados. Chamar tais absurdos de ‘reforma urbanística’ é brincar com o povo desta capital. Todas as propostas evidenciam o total descaso com que vem sendo tratada a cidade. Não podemos nos calar. Desocupa!”, afirma indignada a servidora do Hospital das Clínicas, Aline Soares,

“O prefeito covarde mandou a polícia, mas eles não conseguirão nos deter. Nosso ato é justo, pacífico”, afirma Renato Jorge, coordenador geral da ASSUFBA/ Foto:Américo B. Barros

De acordo com o presidente da CTB-BA, Adilson Araújo, a passeata é oportuna porque vem fortalecer um conjunto de iniciativas que os movimentos sociais já repercutiam. “A cidade está sendo mutilada, literalmente entregue ao capital imobiliário e aos grandes grupos empresariais. Existem várias denúncias com relação à venda de Transcon [Transferência do Direito de Construir], obscuridades nas contas do metrô. Há uma série de irregularidades na gestão atual” afirma o dirigente. “É urgente um projeto de cidade, sobretudo no que diz respeito ao combate da desigualdade social e à garantia de que o povo possa efetivamente ter uma cidade mais alinhada com os ideais de justiça”, completa.

O estudante de Ciências Sociais da UFBA, Marcelo Gavião, avalia a importância da participação do movimento estudantil na passeata. “Essa terceira manifestação reflete todo o espírito de reprovação do povo de Salvador no que diz respeito à administração municipal. É triste ver que as pessoas começam a se distanciar da política por causa de gestões comprometidas com o capital. Para nós estudantes, é uma obrigação participar desse movimento. Esperamos que a população se conscientize e possa eleger um gestor comprometido com a cidade”, ressalta o líder estudantil.

INDIGNAÇÃO – No último dia 17, João Henrique, que já foi do PDT e se reelegeu pelo PMDB, sancionou verdadeiros absurdos em forma de leis. Os projetos, dentre outras tragédias, extinguem a Mata Atlântica e liberam o gabarito da orla, o que provoca sombra nas praias. A população reagiu com indignação, preparando a manifestação através das mídias sociais, principalmente “Facebook” e “Twitter”.

Amine Portugal, uma das organizadoras do movimento iniciado pelos estudantes através das mídias sociais/ Foto:Américo B. Barros

PPDU – Apesar de o Ministério Público ter conseguido na Justiça uma liminar que suspendeu a tramitação de parte dos projetos que alteravam o PDDU, um ardil legislativo levou a Câmara de Vereadores a colocar o texto em votação e aprová-lo em 29 de dezembro. Como a decisão judicial impedia a votação do projeto de lei que modificava o PDDU, os vereadores apresentaram emendas de idêntico teor a um segundo projeto que alterava a Lei de Ordenamento do Uso do Solo (LOUOS).

A aprovação das emendas e do novo texto da LOUOS levou o MP a denunciar por improbidade administrativa os 30 vereadores que votaram a favor das mudanças, mais o presidente da Câmara, Pedro Godinho (PMDB), por ter colocado o projeto em votação. Segundo a denúncia do MP, nove emendas foram apresentadas com rubricas ilegíveis por grupos de 13 a 15 vereadores. .

Ascom Assufba