ENTREVISTA ESPECIAL | Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho: É preciso unificar as ações em defesas das universidades públicas, gratuitas e de qualidade

Por Ana Beatriz Leal, Antonio Bomfim Moreira e Francisco Vilares

Diante da conjuntura política do país, de ataques às universidades públicas federais, inclusive, com cortes orçamentários, é necessário intensificar a mobilização e buscar integrações com os mais diversos setores da sociedade. Em entrevista à ASSUFBA SINDICATO, o presidente da ANDIFES e reitor da UFPA (Universidade Federal do Pará), Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho, falou sobre os desafios das instituições para garantir o funcionamento das universidades públicas, gratuitas e de qualidade.

 

ASSUFBA: A FASUBRA e os sindicatos filiados historicamente lutam em defesa das universidades brasileiras. Como a ANDIFES enxerga esta atuação unitária nesse momento de crises?

Emmanuel Zagury: É essencial. Nós precisamos hoje que todas as entidades que defendem a universidade pública, gratuita e de qualidade estejam convergindo nas suas lutas, unificando as suas ações, para podermos enfrentar essa onda que estamos vivendo, de ataques às universidades, que busca em um prazo curto comprometer o funcionamento das instituições, como instituições públicas e gratuitas.

ASSUFBA: O Sistema Federal de Ensino Público corre perigo. Como fazer para barrar os retrocessos que se avizinham envolvendo a comunidade universitária e a ciência e tecnologia do Brasil?

Emmanuel Zagury: Há muitos desafios e ações possíveis. Eu acho que a mais importante hoje é nós trabalharmos para esclarecer a sociedade sobre o que está acontecendo, o que está em risco, o que a sociedade vai perder se as nossas instituições não tiverem as condições adequadas de funcionamento.

 

ASSUFBA: A ANDIFES participou do Congresso da UFBA, um evento memorável, promovendo o Seminário, com o tema Estado Policial ou Estado Democrático de Direito: que Brasil estamos construindo?. Qual o saldo colhido pelo pleno da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior reunidos aqui em Salvador?  

 Emmanuel Zagury: Primeiro, a realização desse Congresso é muito importante para cumprir a função de comunicar à sociedade sobre tudo o que é feito dentro da universidade na pesquisa, ensino, extensão, promoção de cidadania, arte e cultura. A ANDIFES fica muito feliz de participar, fazendo a sua reunião, como parte do Congresso, e se integrando com essas iniciativas da Universidade Federal da Bahia. O seminário que nós fizemos sobre o Estado policial x Estado democrático de direito visou aprofundar a nossa reflexão sobre esses acontecimentos recentes no Brasil e que, sobretudo, vão na direção de supressão de direitos dos trabalhadores, de garantias constitucionais e de ameaças que violam os direitos mais básicos como, por exemplo, a presunção de inocência de qualquer agente público, que tenha de explicar os atos da sua instituição. Algumas das reflexões que nós fizemos aqui dizem respeito ao fato de como esses acontecimentos têm uma razão que não é só conjuntural, mas é estrutural, como o Estado brasileiro está organizado e como a mídia desempenha um papel fundamental nesse processo. Daí a necessidade também de nós discutirmos a regulação da mídia para que ela cumpra uma função pública.

 

ASSUFBA: Os serviços públicos em geral estão ameaçados pelo governo mais corrupto da história do nosso país. Como as universidades podem contribuir para mudar esta realidade?

 Emmanuel Zagury: A primeira questão é que as universidades têm de continuar apostando na excelência acadêmica e científica. Temos de continuar cumprindo bem o nosso papel como instituições de excelência na formação e na produção de conhecimento. A segunda é dar ciência à sociedade de tudo que é feito, da importância para criar um novo horizonte de desenvolvimento econômico e social, de inclusão, de superação das desigualdades no país.

 

ASSUFBA: Por último, sabemos das dificuldades orçamentárias enfrentadas pelas universidades em tempos temerosos. A morte do professor Luis Carlos Cancellier de Olivo, reitor da UFSC, a todos nós consternou. Como a ANDIFES vai enfrentar esta violência descabida contra a inteligência nacional?   

 Emmanuel Zagury: A ANDIFES tem trabalhado no sentido de dialogar com todos os setores da sociedade que são sensíveis a esses acontecimentos, que conseguem compreender essas violências, o estado de avanço sobre as conquistas sociais. Nós entendemos que hoje, além do trabalho que fazemos internamente nas instituições, e no diálogo com a sociedade, nós devemos intensificar as nossas interações com os setores organizados da sociedade, com movimentos sociais, sindicatos, com todos aqueles que têm uma agenda de construção de um país de promoção da cidadania.