Março nem acabou e já é o mês mais mortal da pandemia na Bahia

Faltando ainda nove dias para acabar, março já é o mês com o maior número de registros de óbitos de covid-19 na Bahia.  Foram 2.280 vidas perdidas no estado no mês, ultrapassando agosto do ano passado, quando mais de 1,9 mil morreram pela doença, um aumento de 20% em relação ao recorde anterior. A data com maior número de vidas perdidas foi a última quarta-feira (18), com 153, sendo esta última semana a mais mortal do mês, com 860 registros de mortes. Ao todo, 14.099 baianos vieram a óbito, segundo números da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). 

Pesquisadores do projeto Geocovid, que tem o objetivo analisar a relação da ocorrência de casos do coronavírus com diferentes dados geográficos, estão refazendo o cálculo de projeções por conta do desenvolvimento de novas variantes e a chegada de vacinas. O que já se sabe é que o cenário será devastador caso o isolamento social não seja respeitado.

O grupo Observatório Covid-19 BR publicou carta aberta classificando o momento vivido como “catástrofe sanitária” e humanitária. A entidade destacou que a situação atual reúne colapso do sistema hospitalar, sobrecarga do sistema de saúde e impasses quanto ao auxílio emergencial. O grupo avaliou que a situação poderia ter sido evitada se os governantes tivessem ouvido a ciência e adotado políticas públicas com antecedência. “A falta de ações de mitigação ou supressão em tempo hábil resultou no estado de emergência no qual, lamentavelmente, nos encontramos”, afirmaram.

Por trás da alta no número de mortes em todo o país, segundo o Observatório, estão fatores como o tempo de espera por vagas em UTIs, esgotamento dos estoques de medicamentos e dificuldades na reposição de oxigênio nos hospitais por causa do aumento do consumo. Além desses motivos, a escassez de profissionais da saúde qualificados para atuar em UTIs, unidades porta-aberta e emergências, bem como esgotamento físico e mental destes trabalhadores, contribuiu para o agravamento da situação atual. E não adianta apenas abrir novos leitos, dizem os cientistas, porque isso não detém o espalhamento do vírus. “Em resumo, se mantido o crescimento acelerado atual do número de casos, não há possibilidade de atendimento hospitalar adequado e o número de mortes evitáveis vai aumentar ainda mais”, prevê o Observatório Covid BR.

Ainda segundo os pesquisadores, como não houve uma recomendação técnica conjunta ou apoio do Governo Federal, estados e municípios realizaram diferentes ações específicas e intervenções contra a pandemia. Além disso, especialistas apontam que as diferentes abordagens à pandemia resultou em situações diferentes pelo país. Quatro estados têm registrado menor mortalidade para cada 100 mil habitantes, segundo dados do Ministério da Saúde desse domingo (21): Alagoas (99,4), Bahia (94,1), Maranhão (80,3) e Minas Gerais (102,8). No Brasil, a taxa geral é bem acima, com 139,3 mortes para cada 100 mil habitantes. “No geral, o Brasil respondeu muito mal à pandemia e, por isso, chegamos a esse momento”, comenta Júlio Croda, médico infectologista e especialista da Fiocruz.

Dentre as medidas sugeridas pelos cientistas do grupo estão: investir em vacinação em massa da população, conter a transmissão do vírus com a redução da circulação de pessoas, assegurar expansão de leitos e contratação de profissionais treinados, fechamento de estabelecimentos que não prestem serviços essenciais, restrição de viagens não essenciais entre municípios e estados, assim como reforçar a comunicação sobre a necessidade de proteção individual. A proteção de pessoas mais vulneráveis com um auxílio de R$ 600 para garantir a subsistência das famílias nesse momento de alta inflação nos itens da cesta básica, além de oferta de linhas de crédito e redução de impostos para empresas, são outras atitudes que devem ser tomadas para conter o avanço da doença e do número de mortes.

 

Fonte: Metro1