Pascoal Carneiro: É preciso voltar às bases e ampliar a unidade

Em entrevista à ASSUFBA Sindicato, o presidente da CTB Bahia, Pascoal Carneiro, considera imprescindível que os movimentos sindicais e os trabalhadores ampliem a unidade e que os sindicatos voltem às bases para enfrentar as dificuldades que se impõem em 2019, a partir da posse do presidente eleito Jair Bolsonaro. Nos dias 6 e 7 de dezembro, a Central realizou, em Salvador, um Seminário Estadual a fim de preparar a resistência para o próximo ano.

ASSUFBA: Qual é a importância do Seminário Estadual da CTB Bahia, que reuniu entidades no intuito de avaliar as ações de 2018, além de construir a resistência para o próximo ano?

Pascoal Carneiro: O seminário tem por objetivo unificar um pouco o movimento sindical e deixar claro o cenário difícil que vamos encontrar a partir de janeiro de 2019. Em 2018, nós enfrentamos muitas dificuldades com a reforma trabalhista, com a terceirização desenfreada, com o funcionalismo público sofrendo em função da EC 95. Foram vários aspectos que prejudicaram os sindicatos, a exemplo do fim da contribuição sindical obrigatória. Tudo isso esgotou o movimento sindical. Além disso, se aponta para o futuro, com o novo governo que assume em janeiro, a carteira verde e amarela em substituição à carteira de trabalho azul. O novo modelo vai acabar de vez com todos os direitos dos trabalhadores, inclusive a Previdência. O movimento sindical vai entrar em dificuldade porque já se aponta, inclusive, que Sérgio Moro [futuro ministro da Justiça] fará fiscalização apertada nos sindicatos. Por isso, nós precisamos estar unidos, entender o momento, voltar para as bases, não tentar reinventar nada no movimento sindical, mas se organizar para enfrentar. É preciso que muitos dirigentes voltem às bases, que é mais importante do que ficar preso na cadeira de um sindicato, em uma sala. É necessário ir à luta para enfrentar as dificuldades que vêm aí.

 

ASSUFBA: Além de voltar para as bases, como você acha que os sindicatos vão conseguir sobreviver em 2019, já que não contam mais com a contribuição sindical, que deixou de ser obrigatória após a reforma trabalhista?

Pascoal Carneiro: Pelos sinais, o governo de transição quer fazer uma “Lava Jato” para o movimento sindical. E aí não vai ter condolência. Ele vai vir para cima. Só que o movimento sindical, os sindicatos, são da natureza do capitalismo. Ele não vai acabar com o movimento sindical. Nós vamos ter de enfrentar essa batalha. Sem dinheiro para fazer a mobilização é mais difícil. Mas, nós vamos fazer luta mesmo sem verba porque o movimento sindical quando surgiu, começou sem dinheiro. Nós não estamos propondo aqui voltar ao ludismo, que foi o início do movimento sindical, mas é preciso resistir. E isso a gente vai fazer com a militância nas ruas, com esclarecimento do trabalhador na base, mostrando que os direitos dele estão sendo liquidados. No capitalismo é assim mesmo. É a pressão em cima dos trabalhadores o tempo todo. É a contradição entre capital e trabalho. Mas, tem uma coisa que eu gostaria de esclarecer para os trabalhadores: o movimento sindical até aqui vê a classe operária como uma classe em si, os trabalhadores e as trabalhadoras como uma classe em si. É necessário reverter esse jogo. Os trabalhadores e as trabalhadoras entenderem que eles são uma classe para si e não uma classe em si. Quando a gente conseguir mudar isso, a gente dá a volta por cima.

 

ASSUFBA: Você falou agora sobre direitos liquidados. Em relação à reforma da Previdência, proposta pelo governo Temer e barrada pela resistência dos movimentos social e sindical, Bolsonaro já anunciou que quer aprovar e pretende fatiá-la. De que forma o movimento sindical e as forças progressistas podem se mobilizar para impedir mais um prejuízo para os trabalhadores?

Pascoal Carneiro: O que ele vai tentar fazer é dividir os trabalhadores. Ele sabe que conseguir aprovar uma reforma constitucional, uma PEC no Congresso, é difícil, então ele vai fatiar. Ele vai colocar primeiro o problema no funcionalismo público, elevando a idade mínima para 65 anos. Só que os trabalhadores têm de entender que não podem entrar nesse jogo de bola dividida. Quando ele mexer no funcionalismo público, os trabalhadores rurais e da iniciativa privada terão de ficar juntos com os servidores públicos. Se barrar esta primeira etapa, tenho certeza de que Bolsonaro vai esquecer isso porque essa reforma da Previdência é uma mentira. É pra botar mais dinheiro no mercado, para os banqueiros, para a Rede Globo, que é dona de um fundo de previdência privada. Um dos maiores fundos do Brasil está na mão da Rede Globo. Então, a propaganda é neste sentido, de fazer com que os trabalhadores migrem para a iniciativa privada. Não podemos entrar nesse jogo. Por isso, quando eles tentarem mexer com o serviço público, os trabalhadores da iniciativa privada, da agricultura familiar e os assalariados agrícolas vão ter de estar juntos.

 

ASSUFBA: Enquanto presidente da CTB Bahia, a sua mensagem é que os trabalhadores, os movimentos sociais e os sindicatos precisam de mais unidade, além de voltar para as bases, a fim de enfrentar o quadro que tende a ser ainda mais difícil em 2019?

Pascoal Carneiro: O novo governo vai fazer de tudo para nos dividir. E precisamos estar unidos. Acabar com essa distinção de funcionários públicos, trabalhadores rurais e da iniciativa privada lutarem sozinhos. É necessário todo mundo junto para unir forças, fazer unidade, ação e luta política no Brasil.