Segundo economista, Brasil levará anos para retomar aos níveis de crescimento e produção anteriores à crise

Apesar da falsa ideia de melhora, o Brasil continua com a crise socioeconômica que assola o país desde o governo de Michel Temer (MDB), em 2015. Estagnação econômica, alto nível de desemprego, precarização e aprofundamento da desigualdade social dão continuidade no governo de Bolsonaro (sem partido).

O economista Márcio Pochmann, em entrevista ao site Brasil de Fato, avaliou as políticas econômicas do ministro Paulo Guedes e de Bolsonaro, que tentam desesperadamente alavancar a economia com as reformas. 

“Podemos esperar uma economia com grande dificuldade de se manter ativa, uma economia sem vigor de produção.” Declara o economista.

Sobre a reforma da Previdência, primeira a entrar em vigor, ele afirma que os trabalhadores permanecerão mais tempo no mercado de trabalho e com os direitos retirados.

“As mudanças na Previdência significam que os trabalhadores permanecerão mais tempo no mercado de trabalho para receberem, quando aposentados, um valor menor. É óbvio que jamais seria dito isso, porque dessa forma possivelmente a desaprovação da reforma seria maior.

A reforma da Previdência significará não apenas a retirada de direitos, mas a retirada de uma quantidade de recursos estimada em cerca de R$ 1 trilhão nos próximos dez anos. Como o benefício da aposentadoria e pensão constitui parte importante da renda e do trabalho, podemos compreender que ela perderá importância nos próximos anos.

Considerando que hoje temos um quadro de amplo desemprego e de ocupações com salários muitos baixos, podemos concluir que a renda das famílias, que é praticamente 2/3 do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, principal componente de dinamismo da economia nacional, será mais frágil do que se encontra.

Nesse sentido, a expectativa que o país possa sair dessa situação voltando a crescer torna-se mais frágil, porque estamos diante de um modelo pós-2015, profundamente concentrador de renda. E a concentração de renda faz com que os ricos tenham baixa propensão a consumir e alta propensão a poupar.

Essa transferência de renda vai para segmentos que, de certa forma, proporcionalmente à renda, consomem menos. Se a maior parte da população com renda menor que teria alta propensão a consumir, mas tem a renda é cadente, isso significa que não teremos dinamismo e vitalidade para sustentar o crescimento. Isso que nós podemos, de certa maneira, considerar que os próximos anos serão de estagnação.

Mesmo a redução da taxa de juros não permite que os recursos disponíveis sejam orientados para o investimento. Porque, para a ampliação da capacidade produtiva, implica saber previamente se haveria consumo para permitir que os investimentos realizados gerassem o retorno do capital investido. Nós estamos estagnados em um patamar inferior a 2015. Não há crescimento, começa por aí. Podem falar que [a economia] está recuperando, mas isso significará talvez, a esse ritmo, em 2022 o Brasil volte a ter o patamar de produção que tinha em 2014.” Afirmou Márcio Pochmann, em entrevista ao Brasil de Fato.

 

Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil