Trabalho escravo só pode ser combatido com enfrentamento ao liberalismo
O trabalho análogo à escravidão é uma herança sombria da nação brasileira que, infelizmente, ainda se faz presente, seja em grandes capitais, cidades do interior ou comunidades rurais. O Brasil tem falhado em combater esta mazela. Só em 2022 mais de 2.500 pessoas foram resgatadas vivendo em situação de trabalho escravo. Desde 1995, quando começou esse tipo de fiscalização, foram registrados 60.251 resgates.
No ano passado, o caso da idosa, negra, de 84 anos resgatada após ter sido tratada como escrava por três gerações – 72 anos – da família Mattos Maia, no Rio de Janeiro, reacendeu a discussão sobre o tema. Nos últimos anos, os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro ajudaram a agravar ainda mais a situação. Além do desemprego, do desmonte de estruturas públicas e de direitos trabalhistas, a agenda liberal também incluiu um discurso racista, de encorajamento de práticas desumanas e da violência contra o trabalhador e a população pobre e negra do país.
Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), lamenta que, todo esforço feito por mais de uma década para tentar conter o avanço deste tipo de prática foi dissolvido, inicialmente com o golpe sofrido por Dilma Rousseff, e logo depois com a eleição de Bolsonaro. Já numa das primeiras medidas ao assumir a presidência, o ex-presidente protocolou a extinção do Ministério do Trabalho, um sinal do que estaria por vir, como pontua Marcelo D’Ambroso, do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4).
A volta de Lula à presidência do Brasil abre espaço para um cenário mais oportuno ao enfrentamento desta ferida tão profunda que ainda sangra na sociedade. É preciso reconstruir o que foi destruido, e tentar resgatar aquilo que foi perdido. Os direitos do trabalhador devem ser assegurados pelo Estado, assim como o espaço à sociedade civil para participar das decisões. Estes são pressupostos reinvidicados pelas centrais sindicais, que devem continuar vigilantes e engajadas na luta contra toda e qualquer manifestação opressora sobre a classe trabalhadora.