Afastamentos relacionados à saúde mental crescem mais de 200% na Bahia

No mês de prevenção ao suicídio, a atenção concentra-se para a saúde mental dos(as) trabalhadores(as) e os novos modelos de trabalho, sobretudo após a pandemia da Covid-19. Na Bahia, os números são alarmantes: em 10 anos, os afastamentos por questões relacionadas às doenças de cunho psicológico cresceram mais de 200% no Estado.
De acordo com o SmartLab BR, plataforma do Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e ministérios como o da Saúde e o do Trabalho e Emprego, o número de solicitações de benefícios previdenciários por transtornos mentais saltou de 5.020 em 2014 para 15.189 em 2024. No período analisado (2014-2024), os setores mais impactados foram: os bancos múltiplos com carteira comercial (21,8%), seguidos da administração pública (14,1%) e atividades de atendimento hospitalar (10,1%). Somente em 2024, houve novos picos: 26% dos afastamentos em bancos múltiplos, 11% em atividades hospitalares e 10,8% na administração pública.
O cenário nacional também preocupa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking latino americano de países com maior taxa de depressão, atingindo 5,8% da população, o que representa cerca de 11,7 milhões de brasileiros.
Mudanças no cenário
O psiquiatra Lucas Alves, professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e diretor da Associação Psiquiátrica da Bahia, ressalta que há um crescimento dos adoecimentos relacionados às transformações nas relações de trabalho, ao aumento das exigências por metas e à instabilidade econômica. Ele destaca ainda que a pandemia contribuiu para reduzir o estigma e ampliar a procura por profissionais de saúde mental.
Entre os afastamentos acidentários, aqueles decorrentes de doenças diretamente ligadas ao trabalho, os transtornos mais frequentes são: ansiedade (33,2%), reações ao estresse grave e transtornos de adaptação (27,9%) e episódios depressivos (20,1%). No caso da Síndrome de Burnout, embora ainda não seja considerada uma doença, trata-se de uma condição ocupacional que evidencia o descompasso existente entre as demandas e a capacidade do indivíduo de lidar com elas, explica Alves.
A prevenção, o acolhimento e o acesso a profissionais especializados são passos importantes para reduzir os impactos do adoecimento psíquico na vida dos(as) trabalhadores(as).