Gubio Soares: As pesquisas sobre o Zika vírus estão paradas por falta de investimento
Em 28 de abril de 2015, os virologistas Gubio Soares Santos e Silvia Sardi identificaram o Zika vírus no Brasil. Em entrevista a Assufba Sindicato, Gubio Soares, pesquisador do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA), conta sobre a descoberta do vírus e ressalta a falta de recursos para prosseguir com as pesquisas sobre a doença.
Assufba: Qual sua formação?
Gubio Soares: Sou formado em Farmácia pela UFBA e tenho doutorado em Virologia pela Universidade de Buenos Aires. Atualmente, sou professor de mestrado e doutorado do curso de Biotecnologia da UFBA e atuo na rede de Biotecnologia Renal. Entrei na universidade como técnico-administrativo farmacêutico, em 1986.
Assufba: No que se baseia a pesquisa realizada por você e a professora Silvia Sardi, a respeito do Zika vírus?
Gubio Soares: Nós fomos os primeiros a descobrir a doença no Brasil e informamos às autoridades. Hoje, estamos estudando geneticamente este vírus e suas ações em células. Inclusive, fizemos uma parceria com pesquisadores de células-tronco de um hospital italiano e estamos estudando infecção em células nervosas.
Assufba: Até então a doença não tinha sido registrada no Brasil. Ela pode ter chegado ao país com a Copa do Mundo de 2014?
Gubio Soares: Acreditamos que sim. Mas, alguns autores acham que esse vírus entrou na Copa das Confederações de 2013. Realmente eu não sei, é muito difícil provar isso. Entre outubro e novembro de 2014, no Rio Grande do Norte, foram registrados casos da doença, mas não foram identificados e se espalharam pela Paraíba e Maranhão.
Assufba: Vocês contam com recursos suficientes para continuar com a pesquisa?
Gubio Soares: Não, estamos numa carência absurda de materiais de todos os tipos. Esperamos que a Universidade reforme a parte elétrica do laboratório que está com sérios problemas. Só temos um ar condicionado em funcionamento e aguardamos a reforma da parte estrutural também. Por conta da falta de recursos, as pesquisas estão paradas. A Fapesb abriu um edital no qual estamos concorrendo. O reitor da UFBA, João Carlos Salles, se comprometeu em iniciar as obras do laboratório, após a realização de uma licitação.
No dia 28 de abril, faremos um ano que descobrimos o Zika vírus. Infelizmente, não tivemos qualquer ajuda de financiamento, ao contrário de outros laboratórios no país, que têm ligação com o Ministério da Saúde.
Assufba: Até o momento qual o quadro geral sobre o Zika vírus?
Gubio Soares: Nós estamos lutando para tentar identificar qual o mecanismo de ação desse vírus no ser humano. Queremos verificar a possibilidade de, no futuro, realizarmos estudos na área de Imunologia para conhecer respostas imunes e saber diretamente se uma pessoa que já teve Zika vírus pode ser contaminada novamente. Queremos descobrir quando é que a gestante é suscetível a infecção, se no primeiro trimestre ou depois desse período, e se isso vai causar algum dano ao cérebro do feto.
Assufba: Já foram detectadas outras formas de transmissão da doença aqui na Bahia?
Gubio Soares: Sim, já detectamos a contaminação do vírus pela saliva. Temos nove casos aqui na Bahia. Detectamos pela urina também. Foi observado que na secreção vaginal não se encontra o vírus e agora, procuramos homens que tiveram a doença e queiram doar o esperma para acompanharmos se o vírus dura 60 dias. Alguns autores afirmam que duram 62 dias, outros dizem que é menos. Então, precisamos fazer esse estudo.