Comunidade acadêmica segue mobilizada contra a Ebserh

Em Aracaju e em Uberaba (MG), atos esclarecem população sobre os prejuízos da adesão e denunciam realidade e problemas vividos nos hospitais 

Em meio à pressão imposta para que as universidades firmem contratos de adesão com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), a comunidade acadêmica destas instituições, juntamente com outras entidades, intensificam as mobilizações na defesa da saúde e da educação. Os atos têm como objetivos revelar a realidade por trás das promessas de melhoria e denunciar os problemas em hospitais que passaram a ser geridos pela Empresa.

Na capital sergipana, a Frente Estadual contra a Privatização da Saúde promove, nesta quarta-feira (22), uma coletiva de imprensa em frente ao Hospital Universitário, por entender que a implantação da Ebserh significa a perda do caráter público do HU, assim como a característica nata de instituição de ensino vinculada à Universidade Federal de Sergipe (UFS).

O objetivo da atividade é esclarecer à sociedade sergipana sobre o dano social causado pela entrega do Hospital Universitário à Ebserh, proposta que sequer foi discutida pelo Colegiado da Universidade Federal de Sergipe. O reitor da UFS ignorou o colegiado e assinou o contrato com a Ebserh sem prévia discussão com a comunidade uni versitária, desconsiderando o direito constitucional de autonomia universitária.

Um calendário de atividades também foi definido com ações para esta semana que prevê, além da coletiva, panfletagem e reuniões, uma audiência pública no Ministério Público, a ser realizada na tarde desta quarta (22), que falará sobre a gestão do HU, em virtude do contrato firmado entre a UFS e a Empresa.

Entre os temas que serão discutidos na audiência estão a cessão compulsória dos servidores do HU para a Ebserh; a situação dos aprovados em concurso para o HU após a celebração de contrato; e a necessidade, ou não, de o Conselho Superior da UFS participar da decisão de adesão e celebração de contrato com a Empresa.

Desde 2013, o MPF/SE apura a questão, tendo sido instaurado um procedimento administrativo específico a respeito da gestão do hospital. A audiência será realizada com o objetivo de reunir informações para este procedimento.

Servidores do HU do Triângulo Mineiro denunciam problemas
Na manhã última sexta-feira (17), servidores do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba (MG), realizaram o ato “Chá com Mentiras” em frente ao ambulatório Maria da Glória, pedindo a anulação do contrato com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). No período da tarde, houve ainda manifestação em frente ao Hospital das Clínicas, que contou com a participação de docentes e estudantes da UFTM, além dos tÍ cnicos.

De acordo com a Coordenação do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Município de Uberaba (Sinte-Med), a data escolhida marca um ano da assinatura do contrato com a Empresa, feito pelo reitor da UFTM, Virmondes Rodrigues Júnior, que entregou o Hospital a uma empresa de direito privado, e teve como objetivo “fazer com que todos fossem testemunhas da falta de eficácia desta Empresa”. Para a coordenadora-geral do Sinte-Med, Simea Aparecida Freitas, trabalhadores da UFTM e da Fundação de Ensino e Pesquisa de Uberaba (Funepu), pacientes e familiares das pessoas atendidas perd eram com a mudança.

Após a mobilização foi entregue um documento à superintendência do hospital e também à Reitoria da UFTM com o relatório das condições de trabalho e com o pedido do cancelamento do contrato com a empresa.

Entre os problemas relatados pelo Sindicato, estão a falta de pessoal e de materiais básicos, como papel para impressão de el etrocardiograma, reagente para exame, compressas, gazes esterilizadas, entre outros, “o que piora as condições de trabalho dos servidores e servidoras, e os expõe a sérios riscos de integridade física, psicológica e profissional”.

Em entrevista ao Jornal da Manhã, a coordenadora do Sinte-Med afirmou que, com a contratação da Ebserh, os problemas pioraram, o número de funcionários tem caído, a burocracia é cada vez maior e os pacientes têm sido prejudicados.  “Queremos o cancelamento do contrato com esta Empresa, e ainda que o governo federal realize concursos para contratação de novos profissionais, investindo no hospital sem ter de passar por uma empresa terceirizada. Nesta sexta (17) fez um ano da assinatura deste contrato que, durante as férias, o reitor assinou sem passar pelo aval do Conselho Universitário. Sobrepondo duas audiências públicas e um plebiscito que foi contra a privatização do hospital”, explica.

Ainda de acordo com os servidores, as promessas de melhorias com a Empresa não foram cumpridas. “Todos que hoje trabalham no HC estão fazendo hora extra, muitos pediram conta devido à desmotivação, a sobrecarga está alta, é muito paciente para poucos trabalhadores”, explica a coordenadora-geral do Sinte-Med à reportagem.

Sindicato recorre à Procuradoria
O Sinte-Med protocolou uma representação na Procuradoria da República em Uberaba relatando “os problemas, a realidade caótica e de risco a que estão expostos todos os trabalhadores do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC da UFTM), em razão da má qualidade de condições de trabalho”.

No documento, a Direção do Sinte-Med observa que tem recebido denúncias por parte dos trabalhadores das mais diversas áreas do HC da UFTM, e lembra que decidiram apurar os fatos, com visitas a todos os setores do hospital, com o objetivo de verificar as necessidades e buscar um caminho legal e eficaz para solucionar tais problemas.

Na representação, colocam um relatório das visitas, lembrando que o HC da UFTM possui cerca de 290 leitos. “O número real de pacientes internados é superior ao número de leitos divulgado pela UFTM, o que leva a crer que nem todos os pacientes estejam acomodados em leitos devidamente adequados. Diuturnamente, o HC/UFTM permanece completamente cheio em todos os setores, sem exceção. Entretanto, o número de trabalhadores envolvidos nos cuidados aos pacientes, desde a equipe médica até a equipe de enfermagem, limpeza e todas as demais, está reduzido (…)”.

“Os problemas existentes no HC/UFTM não se restringem apenas ao reduzido número de trabalhadores da equipe de enfermagem, posto que há graves situações ocorrentes em outros setores do hospital”, acrescenta o documento. Após relatar a situação, a representação reforça que os servidores estão submetidos à sobrecarga de trabalho, além do sofrimento psicoemocional causado pela falta de condições de prestar um atendimento de qualidade aos pacientes, pela falta de medicamentos e materiais essenciais para todos os setores. Lembra que Uberaba é referência na macrorregião em saúde pública para 27 municípios do Triângulo Mineiro, atendendo uma população de 700 mil habitantes, que são encaminhados ao HC da UFTM, apesar de repassar verba menor para os atendimentos realizados.

O Sindicato pediu ainda que a Procuradoria instaure um inquérito civil para apurar os fatos, que realize visitas ao hospital sem comunicação prévia aos gestores, para apurar a realidade in loco e que seja adotada medida judicial eficaz para solucionar os problemas expostos.

Fonte: www.andes.org.br