Miguel Maya: “Como todo artista tem um ego muito grande, o meu não me permite ser incompetente”

Cantor, ator e técnico-administrativo da Maternidade Climério de Oliveira, Miguel Maya é sinônimo de competência e dedicação. O jovem foi indicado na categoria Melhor Intérprete Masculino no Prêmio Caymmi de Música, por sua atuação no espetáculo baseado nos grandes sucessos do cantor, compositor e violonista mineiro Noite Ilustrada, que fez sucesso no Brasil nas décadas de 50 e 60. Miguel conversou com a Assufba sobre sua carreira e expectativas para o dia da premiação, 30/04, no Teatro Castro Alves.

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Assufba: Como você concilia a vida de artista com a área de saúde?

Miguel Maya: É bastante complicado. Eu tenho que cumprir a carga horária do hospital e ao mesmo tempo eu preciso produzir meus eventos, ainda mais quando você faz tudo sozinho. Mas, eu tenho o apoio de todo e isso ajuda bastante.

 

Além de ator e cantor, você é técnico de enfermagem na Maternidade Climério de Oliveira (MCO). Para você existe uma ligação entre duas profissões tão distintas?

Sim, se você quiser. É o que eu faço, eu sou professor de arte e passo isso para meus alunos, acho que qualquer profissão você pode ligar a arte, ela ajuda bastante no desenvolvimento do seu próprio trabalho. A arte trabalha com emoção e sensibilidade, e isso reflete nas suas atividades.

 

Você consegue usar de alguma maneira características de uma profissão para a outra?

Sim, dentro da maternidade existe um espaço de convivência que foi construído para as mães que estão com os bebês na UTI, elas não são pacientes, são mães acompanhantes. Elas iam e voltavam pra casa todos os dias, e o hospital teve a iniciativa de acolher as mães para dentro do hospital. Elas têm o apoio de psicólogos, terapia ocupacional, e é aí que eu entro com as minhas atividades também, já que tenho formação em artes cênicas, uso o teatro, a parte lúdica de relaxamento, e voz e violão sempre que possível.

 

Já pensou em desistir de uma das profissões?

Já, mas eu desejo que um dia isso aconteça de verdade e que seja para o lado da música. Eu gosto muito do que eu faço na enfermagem, mas é como aquela profissão que você começa fazer porque precisa sobreviver, mas como todo artista tem um ego muito grande, ele gosta de se aparecer, gosta de estar no palco, o meu ego não me permite ser incompetente. A enfermagem é uma profissão que faço com muito carinho, minha mãe me deu essa profissão quando eu tinha 18 anos, e eu fui fazendo paralelo ao teatro e a música. Acho muito importante meu papel no hospital, porém   não me vejo o resto da vida nesta profissão, o que eu me identifico é a música.

 

Qual a importância para sua carreira concorrer como melhor intérprete masculino no Prêmio Caymmi de Música?

É tudo! O Prêmio Caymmi nunca vai deixar de ser o maior prêmio de música, é o nosso Oscar de música baiana de qualidade. Eu estar inserido depois de bastante tempo sem cantar devido minha ocupação no MCO é maravilhoso. Agora eu retornei com um show produzido independente, tive alguns apoios pequenos, porém significativos. A partir daí vem surgindo novos convites de entrevistas e trabalhos.

 

Já concorreu a premiações de música ou teatro com essa relevância antes?10599304_957688507577474_3160136402133095043_n

Não, nunca participei de outras premiações.

 

Qual foi sua reação quando soube que seu nome foi indicado?

Eu fiquei paralisado, ocorreu um coquetel para divulgar a lista dos indicados e eu não quis ir porque eu não tinha expectativa no meio de tantos artistas já com nomes. Foram seis shows concorrentes, eu não imaginava e agora estou eu na lista com mais quatro artistas muito bons.

 

Você volta com o show este ano. Já tem data e local definidos?

A partir do segundo semestre de 2015, estamos fechando com o espaço da Barroquinha. O cenário ao redor do espaço tem muito haver com nosso trabalho, mas antes disso talvez ocorram apresentações em outros espaços, porém tenho muita vontade que seja no espaço da Barroquinha.

 

Como você define essa inspiração no sambista mineiro Noite Ilustrada?

Eu tenho um carinho muito grande com esse show, foi uma dupla homenagem ao meu pai e ao Noite Ilustrada. Desde pequeno eu convivi com meu pai escutando as músicas dele, então eu tinha muita vontade de fazer uma homenagem ao artista. Eu pesquisei e percebi que ninguém nunca tinha feito. Eu juntei o fato dele ser um artista negro da periferia, a dificuldade que ele também teve como artista. É algo que me remete a minha infância e ao meu pai.

 

Qual é a sua maior influência nestes 20 anos de carreira?

Minha família. O apoio que eu sempre tive deles em acreditarem em mim. Meus amigos também, pois eu já tentei desistir várias vezes, eu disse que seria técnico de enfermagem pelo resto da minha vida e que eu ficaria no hospital cuidando das mamães e dos bebês, mas meus amigos não deixaram. Tenho uma amiga chamada Glaucia, e ela me falou uma coisa que me marcou: “você não tem o direito de não permitir que o Brasil não conheça o seu trabalho, você tem que continuar.” Então meus amigos, sempre me motivaram. Está no sangue, não tem jeito.