Relatos da vida universitária celebram 70 Anos da UFBA

O primeiro semestre letivo de 2016 – que só começa de fato agora em 4 de julho — terá uma abertura marcante na terça, 05/07, com a aula inaugural em homenagem aos 70 anos da UFBA. Neste evento bastante diferente de uma aula inaugural padrão,  professores mais velhos que viram a Universidade em seus verdes anos, outros, numa fase de maturidade que já lhes permite ter na memória momentos intensamente marcantes das últimas quatro ou cinco décadas da vida da instituição, assim como técnicos-administrativos que também acompanharam os rumos desta grande comunidade  e jovens que estão acumulando suas primeiras experiências acadêmicas,  vão falar de suas vivências e das perspectivas que vêem para a contínua busca pela excelência da primeira instituição federal de ensino superior na Bahia.

A aula tão especial terá as falas dos ex-reitores Roberto Santos — escolhido  como um paradigma de dedicação à UFBA — e Eliane Azevedo, do reitor João Carlos Salles, dos professores Edivaldo Boaventura, Evelina Hoisel, Joviniano Neto (representando a Associação dos Professores Universitários da Bahia), Olival Freire, Othon Jambeiro e Paulo Costa Lima, dos trabalhadores técnico-administrativos Cássia Maciel e Renato Jorge Pinto (presidente da Associação dos Servidores da UFBA) e da coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Lorena Pacheco Brandão.

O evento, acontecerá a partir das 17h da próxima segunda, 05/07, no Salão Nobre da Reitoria, no Canela e sua programação inclui a apresentação da Oficina de Frevos e Dobrados, regida pelo maestro Fred Dantas, do Madrigal da UFBA, que tem como regente o maestro José Maurício Brandão e do Quinteto de Metais da UFBA – Heinz Schwebel (trompete), Joatan Nascimento (trompete), Lélio Alves (trombone), Celso Benedito (trompa) e o mestre Renato Pinto (tuba).  

Antecedendo a essa programação, às 15 horas haverá, também na Reitoria, o lançamento do Selo e carimbo em homenagem aos 70 Anos da UFBA. A cerimônia contará com a presença do diretor da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT). 

Relatos notáveis

Alguns dos palestrantes da aula inaugural cederam trechos ou resumos de seus relatos para uma antevisão do que será a aula inaugural.

Roberto Santos

O ensino e o cultivo das Artes em nível superior eram inexistentes em algumas das novas Universidades, e entre outras, se achava pouco imaginoso e muito burocratizado. Na condição de Reitor da Universidade da Bahia, Edgard aproveitou a oportunidade da perseguição política a europeus que cultivavam as artes em altíssimo nível, afim de atraí-los para a nossa terra. Em programa muito bem estruturado, Edgard começou por estimular a clientela local que aspirava os benefícios no aprimoramento da preparação dos artistas, organizando programas destinados à melhor apreciação da música clássica, do teatro e da dança erudita. Em relação às artes plásticas, contudo, a Escola de Belas Artes, oriunda de cursos organizados na Cidade do Salvador pelo celebrado pintor espanhol Cañizares, ainda na metade do século XIX, contava já com professores aperfeiçoados em países europeus e havia ingressado na nova Universidade desde o seu início.

(…)

A Universidade Federal da Bahia está, agora, comemorando o seu septuagésimo ano de relevantes serviços prestados às comunidades baiana e brasileira. Dispersos pelas mais variadas regiões do Brasil, encontramse exalunos da Universidade Federal da Bahia que revelam suas saudades do tempo de estudantes. Adolescentes que eram então, nem todos houvessem invariavelmente apreendido desde aquela época, o que passou a ocorrerlhes na maturidade, no tocante ao sentido das beneméritas realizações do Reitor Edgard Santos. Por sua vez, o atual Reitor, João Carlos Salles Pires da Silva, cercado da confiança e da admiração dos seus colegas de atividade acadêmica, enfrenta tempos difíceis para o nosso País, os quais saberá contornar, assegurando a continuidade dos brilhantes serviços prestados pela Universidade Federal da Bahia ao longo dos setenta decorridos desde que foi fundada.

Edivaldo Boaventura

Com a universidade, o conhecimento se desenvolveu em toda a sua amplitude, superando a abordagem predominantemente profissional das faculdades tradicionais de Medicina, Direito e Engenharia.

Em duas grandes linhas, o desenvolvimento da UFBA vem se afirmando nesses 70 anos: humanismo e ciência. A universidade possibilitou que desenvolvêssemos as letras, as artes e a filosofia, como também as ciências humanas, como a história, a sociologia, antropologia, psicologia. Antes da universidade não tínhamos esta abordagem das ciências sociais concebidas sem vinculação com o ensino profissional. Uma outra dimensão da universidade foi o conhecimento das ciências exatas: matemática, física, química, biologia, geociências. Num primeiro momento, o nascimento da UFBA juntou as faculdades existentes, mas logo em seguida, inovou criando geologia, administração, teatro, dança, música. Com o movimento da reestruturação e reforma, ficou mais claro o desenvolvimento cientifico e humanista da universidade, impulsionados pela definição da pós-graduação conforme o importantíssimo parecer de Newton Sucupira. Assim, cada vez mais, a universidade cresce cientifica e humanisticamente.

Paulo Costa Lima

Quanto te conheci, mal sabia de mim, mal sabia do mundo. Tinha 12 anos e entrei no Colégio de Aplicação da UFBA, era 1967. Depois, em 1969 foi o deslumbramento com uma Escola de Música cheia de invenção, com Ernst Widmer, Walter Smetak e Lindembergue Cardoso criando novos universos de som e de sentido.

Há quase 4 séculos atrás, Shakespeare colocou-se uma questão fundamental: de que seríamos feitos? E concluiu como só ele poderia ter concluído: somos feitos de sonho. Se Shakespeare estava certo, então uma universidade é um conglomerado de sonhos. Não é apenas o lugar da crítica – é o lugar de uma verdadeira aquarela de posturas críticas. Por que é o lugar onde a crítica enfrenta os seus próprios limites a partir da diversidade das perspectivas.

Nós tantas vezes celebramos Edgard Santos por ter criado as escolas de arte (música, teatro e dança) na UFBA. Mas, o que ele realmente estava criando era uma nova aquarela crítica, uma forma muito mais orgânica de ser universidade, lugar de encontro, sinapse, encruzilhada, coração de defesa e de luta dos ideais de emancipação do nosso povo e de todos os povos…

“Universidade da Bahia universo da ciência, universo da poesia…”

Cássia Virgínia Maciel

Por outro lado, o processo de expansão iniciado com o Reuni, se atualiza demandando políticas mais robustas de permanência material e simbólica que garantam igualdade de oportunidades e superação de desigualdades históricas. As questões que caracterizam as demandas de nossa comunidade não são exclusividade do contexto universitário, a universidade pública brasileira nos últimos anos tem vivido transformações consideráveis impulsionadas, sobretudo, pela questão dos direitos sociais e da cidadania.

Isto ocorre, não sem conflitos, evoluções e involuções que experienciamos na luta contra qualquer tipo de autoritarismo e redução de direitos relacionados a nossos pertencimentos raciais, étnicos, religiosos, de identidades de gênero,orientação afetivo­sexual, de territorialidade, pessoas com deficiência,questões geracionais, dentre outros. Precisa a UFBA de beber nessas fontes de saberes.

Fonte: UFBA