A hora do voto decisivo é agora
Por Emir Sader*
O fracasso dos governos de restauração neoliberal, mais os desastres provocados, levam a que as eleições de outubro definam um novo ciclo na história brasileira
Uma das mensagens a favor do voto útil expressa as coisas muito bem: Se você vota no Lula, ele ganha no primeiro turno. Se você vota em outro candidato, Bolsonaro vai ao segundo turno.
A clareza política está na compreensão de que a linha divisória hoje, na reta final da campanha, não se dá entre quem esteve a favor e contra o golpe na Dilma. Não se dá entre o antipetismo e os petistas.
A polarização fundamental agora se dá entre o bolsonarismo e o antibolsonarismo, o objetivo fundamental é tirar o Bolsonaro do governo, impedir que ele continue a se valer do governo para atacar à democracia, às todos os que não coincidem com seu discurso do ódio e com sua política econômica de favorecimento do capital especulativo.
Lula representa não apenas o PT, a esquerda, a democracia. Representa o antibolsonarismo, incorpora a todos os que se opõem ao Bolsonaro, ao bolsonarismo, incorpora a todos os que se identificam com esse objetivo.
Vão se somando, cada vez mais, apoios ao Lula, de gente que explicita suas diferenças com o PT, que não são de esquerda, que estavam indecisos, que pensavam votar a outros candidatos.
Esta é a hora de conquistar os votos que possam levar o Lula a ganhar no primeiro turno e evitar, definitivamente, qualquer aventura golpista.
A direita se dá conta que não pode ganhar com um candidato como Bolsonaro, desastroso nos seus discursos e nas suas atitudes. Trata de impedir que Lula ganhe no primeiro turno, que Lula ganhe com muita força.
Conta com adesão direta dos meios de comunicação, que retomam acusações ao Lula, ao PT, à esquerda, tentando explorar o antipetismo como contraponto ao antibolsonarismo. A direita não tem o que propor ao país, retoma o discurso do suposto risco que significaria o retorno do PT ao governo e um novo mandato do Lula.
O Brasil já teve eleições que definiram o futuro do pais por um bom tempo. Quando Fernando Collor de Mello, ajudado pela TV Globo na sua edição forjada do debate que ele teve com o Lula, em 1989. Aquelas, as primeiras eleições diretas depois da ditadura – as anteriores tinham se dado em 1960, quase 30 anos antes – definiram que o país tivesse um ciclo neoliberal, que foi de 1990 a 2002.
As eleições presidenciais de 2002 levaram, pela primeira vez, o PT à Presidência da República, com a vitória de Lula. Se abriu o ciclo mais virtuoso da história brasileira até aqui, com fortalecimento da democracia, com desenvolvimento econômico, com distribuição de renda, mediante criação de mais de 20 milhoes de empregos formais e aumento do salário mínimo 70% acima da inflação.
A ponto que os governos do PT foram eleitos e reeleitos democraticamente em quatro eleições sucessivas. Tiveram que ser vítimas de um golpe – um impeachment sem nenhum fundamento legal contra Dilma e a prisão e condenação do Lula igualmente sem fundamento – para ser encerrado.
O fracasso dos governos de restauração neoliberal, de Temer e de Bolsonaro, mais os desastres provocados especialmente por este governo, levam a que as eleições de outubro definam um novo ciclo na história brasileira.
São as eleições mais importantes por que, ou estendem o catastrófico ciclo atual – o que nenhuma pesquisa aponta – ou reabrem um ciclo virtuoso na história do país. São dois contrapontos mais antagônicos: um governo profundamente neoliberal, autoritário, repressivo, que alimenta a violência, o armamento generalizado, o desprestígio internacional do Brasil, entre outros desastres.
São dois mundos, dois Brasis, que se contrapõem. Daí a importância das eleições deste ano. Derrotar o bolsonarismo – e fazê-lo no primeiro turno – tem um significado profundo. Significa rejeitar o modelo neoliberal e o tipo de uso do Estado para promover as desigualdades, a violência, a proteção das milícias e da família corrupta que se apoderou do Estado.
Significa reafirmar o valor da democracia, para que nunca mais deixemos que a destruam. Significa fazer do Estado um instrumento de crescimento da economia e de inclusão social, de garantia das condições minimamente dignas para toda a população. Significa recuperar a imagem degradada do Brasil no mundo.
Por isso não podemos perder nenhum voto, impedir o que a direita quer – levar a disputa para o segundo turno. Esta é a hora decisiva do voto decisivo. Para eleger o Lula no primeiro turno e para propiciar-lhe o melhor Congresso possível, para resgatar o país e dar início a um novo ciclo virtuoso da história do Brasil.
* Emir Sader é sociólogo e cientista político.