Conceição Almeida: Para o Ministério da Saúde o Elsa-Brasil é um estudo importante

O Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto no Brasil, o Elsa-Brasil, é um estudo diferenciado no país e está presente em Salvador, amparado pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA. Já em sua terceira onda, ou seja, terceira fase no colhimento de dados para pesquisa e análise, o Elsa tem avaliado a população adulta trabalhadora de seis instituições, em seis capitais do país. Em Salvador, o público alvo é de pessoas de 35 a 74 anos, funcionários da UFBA, dos mais variados cargos da universidade.

Para que esse importante estudo tenha vida longa, é importante a participação da categoria dos Técnico-Administrativos em Educação. Pensando nisso, a ASSUFBA Sindicato realizou esta entrevista para informar e incentivar a participação de todos.

 

ASSUFBA: O Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto no Brasil, o Elsa-Brasil, é algo inédito no país devido ao porte desse estudo que está localizado em seis capitais brasileiras. Como esse estudo tão importante chegou a Salvador e qual a participação do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFBA nesse processo?

Em 2006 foram feitos consórcios para atender uma chamada do Ministério da Saúde e do Ministério da Ciência e Tecnologia aberta a possibilidade de realização desse estudo. Então essas seis instituições distribuídas nestas seis cidades do país, concorreram a esse edital e foram selecionadas para executar o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto no Brasil, o Elsa-Brasil. Aqui em Salvador, o grupo de epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva foi o grupo que fez parte, em Salvador, do consórcio. Esse estudo é amparado, como também faz parte do leque dos estudos do Instituto de Saúde Coletiva. O apoio que a gente tem dentro da universidade é dado pelo ISC.

Existem outras pesquisas de grande porte no Brasil parecidas com o Elsa, mas não com essa população. Pelotas tem uma coorte que já tem muito tempo, mas era uma coorte de crianças, de nascimentos. Com essa população, com essa faixa etária, não tem. Nós começamos com pessoas de 35 a 74 anos, com todos os servidores das 6 instituições. Todo mundo que faz parte do estudo são os servidores das seis instituições.

 

ASSUFBA: Vocês têm monitorado na Bahia, dado de 2016, 11.607 pessoas por contatos telefônicos aferindo se está tudo bem. Os participantes efetivos são 2029, que fizeram parte da pesquisa na onda 1. Vimos no Boletim do Elsa que foram investigadas 716 internações, sendo um total de 266 de interesse do Elsa (cardiovasculares, neoplasias, doença renal crônica e diabetes). Os participantes do estudo são examinados anualmente pelo Elsa? 

 

Conceição Almeida: Entre a onda 1 e a Onda 2 como todo estudo longitudinal nós tivemos uma perda além dos óbitos, isso é normal em estudos de longo período. Tem os participantes que não querem mais participar, existem aqueles que recusam. Mas o percentual de recusa no Elsa como um todo é muito baixo comparado com outros estudos porque foi um processo voluntário. E quando as pessoas se voluntariam, elas aderem mais ao estudo.

Anualmente os participantes que se cadastraram no ano anterior, passam a receber uma ligação telefônica por ano. O que a gente faz nessa ligação telefônica? Perguntamos se nesse período houve algum evento de saúde, se o paciente foi internado, se foi diagnosticado com algum problema de saúde.

Temos um leque de doenças de mais interesse do estudo. Nós queremos, principalmente, avaliar e acompanhar o crescimento das doenças crônicas não transmissíveis. Entre elas diabetes, doenças coronarianas, alguns câncer, problemas neurológicos. Então a gente vai acompanhando se houve algum internamento e existe essas doenças que a gente investiga de forma mais aprofundada.

 

ASSUFBA: Além do monitoramento por telefone, há aferições por exames? Existe essa contrapartida do participante fazer esses exames pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto no Brasil?

Conceição Almeida: Nós não somos um plano de saúde. A gente tem alguns exames laboratoriais tradicionais. Nós temos um eletrocardiograma, algumas medidas laboratoriais que são: colesterol, glicemia, hemograma, pressão arterial, peso e altura. O peso é medido em uma balança especial que é a de bioimpedância, que diz  a quantidade de água, de gordura, de massa muscular. Esse resultado a gente devolve para os participantes. Algumas medidas que a gente faz não tem um resultado clínico específico. O que fazemos? Nós recebemos os exames. Se o paciente tiver alguma alteração a gente recomenda que ele procure o médico dele porque a gente não tem um médico para fazer acompanhamento. Como eu falei, o Elsa não é um centro de saúde ou plano de saúde. É claro que a gente recomenda e algumas vezes consegue encaminhar para o serviço médico da universidade. E faz a recomendação: “Olha o seu colesterol tá alto, sua glicemia tá alta. Procure seu médico para fazer o acompanhamento”. Mas a gente não examina anualmente, fazemos isso no período de 2 a 3 anos. Atualmente estamos na terceira onda do estudo.

 

ASSUFBA: Sobre os trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação da universidade. Como se enquadra a saúde deles referente aos hábitos alimentares, práticas de atividade física e saúde mental?  O que aponta os resultados referente à saúde dos trabalhadores da UFBA?

Conceição Almeida: Sobre os resultados do Elsa, a gente prefere de uma forma geral não estratificar por cidade. Nós preferimos avaliar o conjunto para evitar preconceitos, por exemplo. A situação dos servidores de Salvador com relação aos demais centros é muito semelhante, mas tem algumas especificidades. Em relação, por exemplo, a atividade física, se vê que a frequência é mais baixa. Salvador apresenta as menores prevalências de atividades físicas no lazer. É preconizado pelo Ministério da Saúde que se pratique 150 minutos de atividade moderada e intensa por semana. Então pensando nisso nós não atingimos essa meta. Só 38,6% dos homens e 25,2% das mulheres, esse índice é considerado baixo.

 

ASSUFBA: O Elsa faz uma avaliação sociocultural dessas atribuições da saúde? Se sim, o que justifica a mais baixa taxa de verificação de atividades físicas do estudo?

Conceição Almeida: Nós acompanhamos servidores que vão de docente a apoio, pessoas que têm condições socioeconômicas distintas. Por exemplo, em relação ao deslocamento. Eu falei de atividade física no lazer anteriormente. Mas temos um dado interessante que é o uso de bicicletas ou caminhadas para o local de trabalho. A estrutura da cidade não é exatamente de uma cidade com uma geografia que estimule essas atividades, apesar disso nós temos o deslocamento ativo, com pessoas de menor nível socioeconômico. Reforçando a ideia de que não é puramente adoção de um hábito, mas decorrente de desigualdades sociais. Dificuldade de acesso, transporte público caro. As pessoas acabam se beneficiando, não por uma prática saudável, mas por uma condição socioeconômica.

Um dado interessante. As mulheres como um todo têm um estilo de vida mais saudável que os homens. As mulheres com 60 anos ou mais e com escolaridade superior apresentam um estilo de vida mais saudável. A idade faz com que elas se cuidem mais.

 

ASSUFBA: Como vocês estão se preparando para 2019, nessa perspectiva de um novo governo que sinaliza questões mais efetivas no corte de gastos e investimentos?

Conceição Almeida: O Elsa é um estudo caro. Para 2019 especificamente estamos garantidos. Todo recurso que gastaremos ano seguinte tem que vir anteriormente. Agora, depois disso, como ficaram as próximas negociações a gente não sabe. O que sabemos é que no Ministério da Saúde atual e no departamento de ciência e tecnologia, esse é um estudo importante. E a gente tem devolvido para o ministério resultados que possam ser transformados em políticas públicas de saúde para população. Para o ministério esse é um estudo importante.

Todos os ministros que entraram no ministério da saúde entenderam o Elsa como um estudo importante para o Brasil porque tudo o que a gente sabe de doença cardiovasculares e diabetes hoje são todos dados baseados em informações do hemisfério norte que tem costumes, hábitos diferentes. Nós temos uma população mais miscigenada. Nós podemos encontrar pontos de corte para determinadas medidas, diferentes do hemisfério norte. Nós temos hábitos alimentares diferentes também, por exemplo. Então quando mostramos nossos resultados para o ministério, o que a gente mostra pode ser transformado em políticas. Nós temos uma parte grande de nutrição nesse estudo. Por exemplo, o consumo de sal verificado pela Elsa foi praticamente o dobro do que é recomendado. E isso tudo o ministério está ciente e é importante para o planejamento de suas ações.