EM NOTA, DCE DA UFMG REPUDIA TROTE PRECONCEITUOSO
Na última segunda-feira (18/03) circularam pela internet fotografias do trote realizado na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com conteúdo racista e preconceituoso.
Amplamente compartilhada nas redes sociais, uma das imagens mostrava um veterano segurando uma estudante acorrentada, com a pele pintada de preto, e um cartaz com os dizeres “caloura Chica da Silva”. Em outra foto, estudantes fizeram saudações nazistas ao lado de um calouro amarrado a um poste.
Para o presidente do DCE da universidade, Jorge Mairink, este tipo de ação é inadmissível e fere a história do povo brasileiro. ‘’Nós, do DCE, somos radicalmente contrários a qualquer tipo de trote preconceituoso. Inclusive, estamos em campanha contra essas atitudes. A palavra trote deve ser desmistificada – precisamos recepcionar bem os calouros e não agir de forma pejorativa’’, falou.
Por meio de nota, o reitor Clélio Campolina e a vice-reitora, Rocksane de Carvalho, repudiaram “quaisquer atos de violência, opressão, constrangimento” durante os trotes. Segundo a UFMG, os procedimentos cabíveis “para apuração dos fatos e punição dos envolvidos” já foram iniciados.
No início do semestre, a universidade enviou e-mails aos alunos informando que trote não é legal. O regimento interno proíbe violência ou ofensas contra professores, funcionários ou estudantes.
Confira abaixo nota de repúdio assinada pelo DCE:
O Diretório Central dos Estudantes(DCE) da Universidade Federal de Minas Gerais repudia a ação dos estudantes da Faculdade de Direito responsáveis pelo trote com caráter altamente racista, machista e fascista.
A universidade passa hoje por um processo de transformação, incluindo cada vez mais os setores populares, excluídos dela até então. Este tipo de ação vai na contramão da universidade que acreditamos e é fruto do pensamento conservador vigente, que não aceita as mudanças de caráter popular.
Chica da Silva foi uma mulher lutadora, que se colocou contra o machismo e a escravidão do povo negro, por isso sua imagem representa um insulto ao pensamento conservador, pois traz à tona a figura da resistência negra e feminina. Sua imagem é referência para a cultura brasileira.
A utilização de sua imagem como algo pejorativo é inadmissível e fere a história de nosso povo. Uma recepção de calouros que utilize dessa forma a sua imagem parece enaltecer a escravidão, já abolida no Brasil desde 1888, e mostra o quanto o racismo ainda faz parte do cotidiano da sociedade e da universidade brasileiras.
Acreditamos também que a retomada das referências autoritárias fascistas, responsáveis pela repressão e extermínio de um povo num período histórico recente, não devem ser banalizadas. Da mesma forma, a inferiorização das mulheres não deve ser naturalizada, nem utilizada como uma ferramenta humorística.
Preocupamo-nos com a formação ideológica dos indivíduos que compartilham deste pensamento e destas práticas, pois sonhamos com uma universidade igualitária e popular.
Há que se transformar dor em luta. Não basta que nos indignemos com a situação posta, é necessária uma ação que traga o tema a público, para que assim possamos combater todas as formas de opressões e preconceitos, construindo uma nova universidade e sociedade.
Pensando nisto, o DCE em conjunto com a Universidade, organiza um debate público com o tema em questão. Convidamos toda a comunidade acadêmica e a sociedade para a atividade “Trote não é legal” a ser realizada na terça-feira 26 de março, às 11h na Praça de Serviços da UFMG.
A universidade precisa ser transformada.
Belo Horizonte, 18 de março de 2013
DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES DA UFMG
GESTÃO PÉS NO CHÃO
Fonte:http://www.une.org.br/