Novo indicador do Dieese mostra ‘estado crítico’ do trabalho no país

O Índice da Condição do Trabalho (ICT), lançado pelo Dieese, revela o “estado crítico” vivido pelos trabalhadores brasileiros. É o que opina o diretor técnico do instituto, Clemente Ganz Lúcio. “Estamos na UTI”, afirmou, enquanto apresentava o novo indicador a dirigentes sindicais.

O ICT é uma espécie de “IDH do trabalho” e será divulgado trimestralmente. A metodologia compreende uma variação de 0 a 1: quanto mais próximo de zero, pior a situação geral do mercado de trabalho. Para chegar ao índice, oito fatores, reunidos em três grupos, são levados em consideração: inserção ocupacional, desocupação e rendimento. Todos têm o mesmo peso.

Os dados utilizados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. No último trimestre do ano passado, o ICT foi de 0,36, com retração em relação a idêntico período de 2017 (0,39).

Quando observados os períodos anteriores, o resultado de 0,36 é ainda pior. Para se ter ideia, em 2014, o índice chegou a 0,62. Para Clemente,  o país vive um era de “explosão” do desemprego e de crescimento da informalidade. O mercado mostra “alta precarização, alta instabilidade e muita insegurança”. Ele chama a atenção para profundas transformações que vêm atingindo o universo do trabalho.

Termômetro

“Além das inovações tecnológicas, temos observado que a organização das empresas também se transforma. E o sistema de relações do trabalho vem sendo alterado”, afirma, citando a Lei 13.467, de “reforma” trabalhista. “Há um novo mundo do trabalho em termos de direitos. São múltiplas dimensões que afetam o mundo do trabalho.”

Cenário desfavorável

Já o índice relativo à desocupação ficou estável em 0,36. Mas no final de 2013, por exemplo, estava em 0,9, em um período de menores médias históricas do desemprego e crescimento da ocupação com carteira assinada. Esse grupo inclui desocupação/desalento, procura por trabalho há mais de cinco meses e novamente desocupação/desalento, desta vez dos responsáveis pelo domicílio.

O índice do rendimento considera o ganho por hora trabalhada e a distribuição dos rendimentos, um indicador que mede a desigualdade. Nesse caso, o ICT foi de 0,46 para 0,44. Já esteve perto de 0,6. Clemente observa que é o grupo que tem “movimento mais suave”, sem variações extremas.