A privatização da saúde: morte para os mais pobres, sobrevida para os ricos

Crise envolvendo a UTI do Hospital Evangélico confirma: a privatização da saúde é um desastre para a sociedade

Foto: sinditest.org.br

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As notícias a respeito da suspeita de assassinatos na UTI do Hospital Evangélico estão cada vez mais estarrecedoras. No dia 27 de fevereiro, vários jornais divulgaram trechos de gravações de conversas entre a médica Virgínia Soares de Souza, que teve a prisão preventiva decretada, e outros médicos de sua equipe. Numa dessas gravações, a médica e um interlocutor desconhecido conversam sobre os pacientes da UTI como se eles fossem mercadorias no estoque de um armazém qualquer.

Houve ainda a divulgação massiva pela imprensa de uma frase em que a médica teria dito que “estava com a cabeça tranquila para assassinar”. No dia seguinte, porém, se descobriu que na verdade a médica dissera “raciocinar”. Erros à parte, de acordo com a Polícia Civil, o inquérito que determinou a prisão preventiva da médica, de outros três médicos de sua equipe e de uma enfermeira, tem mais de mil páginas, e há vários outros elementos que justificam a prisão, como os testemunhos.

Aparentemente, os supostos assassinatos fariam parte de um amplo esquema de enriquecimento, baseado na “comercialização” dos leitos da UTI.

Mercadorias ou vidas? Saúde privada ou saúde pública?

Se tais suspeitas se confirmarem, este caso será a demonstração trágica de que o capitalismo é capaz de transformar tudo em mercadoria, e de que a privatização da saúde é um desastre para a sociedade.

No entanto, se a médica Virgínia e seus supostos cúmplices forem condenados, é fácil imaginar qual vai ser a reação de todos os hospitais privados do país, de todos os convênios particulares e de todos os empresários da saúde: dirão que a médica era “psicopata”, e que se trata de um “caso isolado” e “excepcional”. É uma resposta cômoda para quem vive de explorar o sofrimento alheio. Todo capitalista, não importa se é um banqueiro, um industrial, um acionista de um plano de saúde ou o proprietário de uma empresa de fabricação de equipamentos hospitalares (como parece ser o caso da doutora Virgínia) tem sempre um único objetivo: o lucro. E o capitalista faz qualquer coisa para obter mais e mais lucros.

Neste início de 2013, o capitalismo está mostrando sua verdadeira face em episódios cada vez mais terríveis. Na tragédia de Santa Maria, os interesses do proprietário da boate Kiss falaram mais alto do que as súplicas dos jovens que imploravam para que os deixassem sair. A ordem era: “Ninguém sai sem pagar a conta!” Pagaram com a vida. Mais de duzentas mortes que certamente poderiam ter sido evitadas, se as pessoas pudessem sair de lá assim que o incêndio começou.

No caso da UTI do Hospital Evangélico, se confirmadas as suspeitas que recaem sobre a médica e parte de sua equipe, a situação é igualmente trágica, porém mais complexa: combinam-se aqui interesses muito maiores. De fato, o ramo da saúde privada é altamente lucrativo, e os “empresários” que exploram esse setor possuem um lobby muito poderoso no Congresso Nacional. É isso o que explica a velocidade com a qual o governo do PT, primeiro com Lula, depois com Dilma, criou a EBSERH, a empresa privada que quer lucrar com as vidas (e com as mortes) dos pacientes dos Hospitais Universitários de nosso país.

É uma lástima que a privatização da saúde tenha avançado tanto, e que os capitalistas tenham conseguido se apossar de hospitais, leitos de UTI, fabricação de medicamentos ou equipamentos médico-hospitalares… Todos esses “ramos da economia” deveriam fazer parte do SUS, isto é, não deveriam ser “negócios”, e sim áreas de atuação exclusiva do Estado, com a finalidade única de atender ao interesse geral da sociedade, e não a interesses privados, individuais, particulares.

A Direção do Sinditest-PR se solidariza com as famílias que hoje padecem com os sofrimentos e perdas irreparáveis causados pelas mortes suspeitas na UTI do Hospital Evangélico. Prestamos nossa solidariedade também aos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem daquele hospital, que suportaram durante anos o assédio moral, as ameaças e os maus-tratos da lógica gerencial do capitalismo: humilhação e opressão constantes, salários de miséria.

Por fim, queremos dizer a todos os trabalhadores e trabalhadoras do Hospital de Clínicas da UFPR, que temos muito orgulho da nossa categoria, pois somos uma das poucas universidades do país que conseguiu barrar a EBSERH. O HC da UFPR continua sendo um hospital público, um hospital escola voltado para a promoção do conhecimento, a formação de profissionais e ao atendimento à população, principalmente aos mais pobres.

Fonte: sinditest.org.br