Semana da Mulher na UFRB mobiliza lideranças femininas do Recôncavo Baiano

Alice Portugal: "A mulher tem a mesma quantidade de neurônios que o homem, mas tem um olhar diferente. Mulher tem foco variado. Conta a história da opressão"

Alice Portugal: “A mulher tem a mesma quantidade de neurônios que o homem, mas tem um olhar diferente. Mulher tem foco variado. Conta a história da opressão”

A Mulher na Política foi o tema do primeiro encontro da 3ª Semana da Mulher, que aconteceu na noite desta segunda-feira (4), no auditório da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), na cidade histórica de Cachoeira e reuniu vereadoras de vários partidos e a deputada federal Alice Portugal (PCdoB/BA) para debater a inserção da mulher contemporânea na política.

Organizado pela Associação Institucional de Defesa de Direitos e Garantias Constitucionais e Infra Constitucionais  da Região do Recôncavo (Acidadã), que tem à frente Pedro Erivaldo Francisco da Silva, o Cabeça, o evento contou ainda com a presença da diretora do Centro de Artes , Humanidades e Letras da UFRB, Drª Georgina Gonçalves  e do vice-prefeito de Cachoeira, Wilson  Lago.
As vereadoras Angélica Sapucaia, Eliana Gonzaga, Maria Lúcia, Adriana Silva, Roquelina  Rodrigues, Melissa Reina e a deputada Alice Portugal concordaram que a política é a ferramenta com potência para  superar a dominação histórica da mulher.   Todas  engajadas na luta por conquistas sociais, as parlamentares emocionaram a plateia com as suas histórias de vida.
Dupla jornada
Em seu segundo mandato, a presidenta da Câmara de São Félix, Roquelina Rodrigues disse que para estar na política teve de enfrentar “forte resistência da família”. De forma bem-humorada,  Roquelina contou  como “driblou” a segunda jornada, conquistando  “com jeitinho feminino” o comprometimento do marido na  labuta doméstica:  “Ah, amor, faça o almoço você mesmo, que hoje eu estou muito cansada”, gracejou.
 Vereadora mais votada de  São Félix, a enfermeira Melissa Reina, narrou a sua trajetória de trabalho no PSF. A vereadora  disse que coube à mulher “fazer milhões de coisa ao mesmo tempo, sobretudo à  mulher que optou por entrar na política”.
A vereadora Maria Lúcia,  a Meire de Kakai, como é conhecida pela população local, defendeu a ideia de que a mulher dignifica a política. “Me sinto muito honrada, pois se fala muito em corrupção, mas isso não atinge a mulher.  As mulheres não entram na política por dinheiro e sim porque são mais humanas “, argumentou .
Com  vinte anos de atuação no sindicalismo rural, a vereadora Eliana Gonzaga, a Eliana do Sindicato, fez uma retrospectiva histórica da mulher na civilização ocidental.  Para ela, a superação da dominação da mulher passa necessariamente pela ampliação da participação feminina na política. “Temos de eleger mais representantes do gênero”, opinou.
Georgina  Rodrigues salientou que jamais  presenciou   um encontro dessa natureza na universidade . Para ela, “É  muito importante o lado mulher das lideranças políticas. É muito importante esse olhar, esse jeito que a gente coloca nessas instituições”.
Identidade suprapartidária
Alice Portugal cumprimentou as vereadoras pelo “show” que deram em suas exposições. Ressaltando  “a identidade suprapartidária” do evento que reuniu tantas parlamentares com histórias de vida diferentes na “defesa do que é ser mulher”. A deputada convidou a plateia a refletir sobre as razões que  levaram a mulher a ser colocada em um papel secundário na história.
Alice  remontou ao tempo da comuna primitiva, quando os filhos eram de toda a tribo, e o “homem coletor /caçador”, sentindo-se explorado por pares que supostamente produziam menos,  resolveu caçar só para si e seus consanguíneos. “Isso determinou que a primeira cerca fosse erguida  e a mulher capturada. Ela foi assim subalternizada: a maternidade a escravizou e a história a puniu”, enfatizou.
Secretária de Mulher do PCdoB e uma das principais articuladoras para aprovação da Lei Maria da Penha,  Alice Portugal  falou sobre a dupla jornada e  defendeu políticas afirmativas para grupos que, como a mulher, tiveram  os “direitos represados por tanto tempo”.  A deputada  é autora do PL 6653/09, que  cria mecanismos para garantir a igualdade entre mulheres e homens  nas relações de trabalho urbano e rural  e cuja votação é uma das prioridades da bancada feminina na Câmara dos Deputados. “Uma  sociedade não  será emancipada enquanto a metade dela for tratada como um ser de segunda categoria”, concluiu.