Roque Albuquerque: “O Estatuto da Unilab é um marco. Hoje nós temos identidade”

A convite da ASSUFBA, o último reitor pro tempore da Unilab, Roque Albuquerque, fala sobre a importância do Estatuto da Universidade, após 10 anos de fundação da instituição, dos desafios da gestão durante a pandemia e sobre o projeto de expansão do Campus dos Malês.

 

ASSUFBA – O Estatuto da Unilab aprovado pelo MEC depois de 10 anos. Sem dúvida, é um marco. Sabemos que não foi uma luta fácil. Como se deu esse processo e o que a aprovação do documento representa para a comunidade universitária?

Roque Albuquerque – Sem esse documento, a Unilab não estaria institucionalizada. Ela poderia ser facilmente dissolvida, transferida, se tornado um fundo de quintal de qualquer outra Universidade, tanto os campi do Ceará, quanto o Campus dos Malês. Então, a aprovação do documento para a comunidade universitária tem a ver, neste primeiro momento, com a sua identidade. Finalmente, o nosso Registro de Nascimento está emitido e pronto e, para nós da Unilab, uma realidade. Não é mais necessário ficar na dúvida porque quase todos os reitores pro tempore prometiam que iriam publicar. Encerrou essa fase e sem nenhum medo, sem duvidar, nós hoje temos uma identidade, nós somos Unilab. Isso é um marco para todos nós.

 

ASSUFBA – Como foi lidar com a gestão da Unilab durante a pandemia de Covid-19? Quais foram as principais dificuldades?

RA- Foi um momento muito difícil, medos e temores por todos os lados. Alguns de nós fomos infectados [pelo coronavírus]. Não demorou muito eu fui infectado. Mesmo assim, eu não deixei de trabalhar um único dia. Claro que em alguns dias eu pedia licença em uma reunião para deitar um pouco porque eu não conseguia continuar. Eu passei 35 dias lutando contra a Covid-19. Mas, entre as principais dificuldades estava a não desmobilização da Universidade. Professores, técnicos, discentes. Todos estiveram engajados para promover lives e orientações, a fim de já iniciar as atividades basicamente no primeiro dia de anúncio da pandemia. No meu terceiro dia de gestão foi criado o Comitê Institucional de Enfrentamento à Covid-19, composto por diversas cabeças do Campus dos Malês e dos campi do Ceará. O comitê tem uma página e lá consta cada etapa, desde o protocolo de biossegurança, planejamento de acesso, ao retorno às aulas. Foi muito difícil. Nós não estávamos preparados para trabalhar remotamente porque nós somamos ao nosso dia a dia de casa, de cozinhar, de limpar, de atender a família, somamos isso a tudo novo na nossa vida. Precisamos de muita criatividade. Foi uma barreira imensa. Mas eu vou dizer, viu? Ô povo criativo. Os docentes, os discentes e os técnicos realmente revolucionaram na criatividade e estão com preço muito alto pago. Foi muito cansativo, trabalho em dobro. Mas, eu confio que outras dificuldades serão superadas.

 

ASSUFBA – Como andam as obras que visam fortalecer e expandir o campus dos Malês?

RA- As obras inacabadas estão avançando. O projeto já está feito e foi retomado. O deputado federal Cacá Leão já se comprometeu a destinar R$ 2 milhões, mas ainda é insuficiente. Então, haverá uma tentativa agora em fevereiro, ou quando forem liberadas as emendas, de uma emenda de bancada que irá fortalecer diretamente o Campus dos Malês. Nós na gestão superior estamos comprometidos em não usar os recursos no Ceará porque será a bancada da Bahia que irá nos ajudar. Precisamos em torno de R$ 7 ou 8 milhões para terminar as obras inacabadas. É um compromisso da nossa gestão. E a expansão do Campus dos Malês, a necessidade novos cursos, já foi discutida com a chefia de gabinete do vice-governador do Estado, João Leão, que lança apoio, deputado Cacá Leão, que também tem interesse de ajudar, e a Prefeitura de São Francisco do Conde, tanto o prefeito anterior [Evandro Almeida] quanto o recém-eleito [Calmon], tem o compromisso conosco. Então, há grandes perspectivas.

 

ASSUFBA – O senhor é o último reitor pro tempore da instituição. Conte-nos quais foram os desafios desta gestão, inclusive, o de manter o Campus dos Malês enquanto Unilab, já que gestões anteriores formalizaram o pedido de desvinculação do campus e cessão para outra universidade federal da Bahia?

RA- No começo, no dia 13 de março de 2020, o maior de todos os desafios foi a questão da credibilidade. Eu cheguei desacreditado e muito atacado. Eu tomei como desafio não revidar e nem desistir por causa da opinião dos outros que não me conheciam. Então, eu e a professora Cláudia Carioca [vice-reitora] tivemos o desafio de provar para a comunidade que nós seríamos um dos melhores ou os melhores gestores da Unilab. O segundo grande desafio envolve Ceará e Bahia. Desde o início de 2018, já se falava em transformar a Unilab em um campus avanço da UFC, no Ceará, e o Campus do Malês se tornar também vinculado a alguma Universidade Federal da Bahia. Isso foi realmente algo que já se falava desde 2018 e, creio eu, que foi levado por algum dos ex-reitores, eu não sei qual, mas foi levado. Depois de rejeitada a proposta, fui chamado para uma reunião com o ministro da Educação à época. Eu fiz dois pedidos como condição para que eu fosse reitor. O primeiro era que nenhum outro reitor da UFC ou de outra Universidade voltasse à Unilab.  Defendi a proposta da Unilab, desde o seu decreto, de ser uma Universidade internacional, o que fazia da Unilab uma instituição única e que tornava a Universidade uma autarquia federal de educação estratégica para a diplomacia do Brasil e desenvolvimento sustentável do mundo inteiro para os PALOP e também os países da CPLP. O segundo desafio foi, além de não acabar com a Unilab, não encerrar a internacionalização porque isso faz da Unilab única, tanto do Campus dos Malês quanto os campi do Ceará. No Campus dos Malês, por exemplo, eu não sabia dos detalhes, mas em dezembro passado, quando estive no MEC, havia uma ideia de que não iriam terminar as obras porque queriam se livrar dos Malês. Eu falei absolutamente não. Eu falei isso pera secretário da SESU, Wagner Vilas Boas, e para o ministro Milton Ribeiro. Nós da Unilab não queremos e não aceitamos essa desvinculação, a cessão do Campus dos Malês, que é nosso. É a Unilab na Bahia e vamos fazer por onde se desenvolver. Com o nosso Estatuto publicado, isso não vai mais acontecer. Tenho certeza de que as comunidades dos Malês e do Ceará não querem isso. E nós estamos prontos para brigar com qualquer um que queira fazer o contrário. Malês é Unilab. Nós somos Unilab, somos únicos, somos Ceará, somos Bahia, somos Malês, somos Auroras e somos Palmares.